235 Cidades ficam debaixo d’água depois das fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul
Desde a segunda-feira, 29 de abril, já somam 31 o número de mortes, registro de 56 pessoas feridas, ao menos 74 pessoas estão desaparecidas e mais de 17 mil moradores estão desalojados. Além dos desalojados, 7.165 estão em abrigos fornecidos pelas prefeituras. Também foram contabilizados, mais de 351 mil pessoas afetadas diretamente pelas chuvas.
Veja antes e depois de áreas afetadas por temporal.
Cidade de Encantado (RS)
Em Lajeado, uma unidade da loja da Havan ficou coberta pela água. Em imagens que circulam nas redes sociais, é possível ver apenas a parte superior da construção do estabelecimento e a estátua da liberdade, símbolo da loja.
No quilômetro 228 da rodovia RSC-287, uma ponte foi arrastada pelas águas em Santa Maria. Imagens mostram o momento em que a estrutura cede e cai na correnteza.
Em Porto Alegre, o nível do lago Guaíba ultrapassou os 4 metros e a cidade está inundada pelas águas da chuva nesta sexta-feira, 3. A metrópole gaúcha está sendo impactada pelas intensas tempestades que têm ocorrido no Rio Grande do Sul desde o começo da semana.
A barragem da Usina Hidrelétrica 14 de Julho, localizada entre as cidades de Cotiporã e Bento Gonçalves, se rompeu parcialmente.
Entenda a combinação de fenômenos climáticos que provoca o dilúvio sobre o estado
Fim do El Niño, Atlântico aquecido, domo quente e canais de umidade concentraram tempestades no Sul do país
Uma complexa combinação de fenômenos climáticos provocou o dilúvio sobre o Rio Grande do Sul. Eles estão, possivelmente, associados aos momentos finais do El Niño, que está em transição para uma La Niña, e às mudanças climáticas por trás do forte aquecimento dos oceanos.
O dilúvio é resultado da interação entre ventos do Pacífico, umidade da Amazônia, frentes frias da Patagônia, águas quentes no Atlântico e um domo quente no Centro-Oeste e no Sudeste. Todos se juntaram para que volumes sem precedentes de água estejam sendo despejados na maior parte do território gaúcho. Mas o que faz essas chuvas tão terríveis pela persistência é um bloqueio no Pacífico poderoso ao ponto de travar a atmosfera.
Os ventos canalizam nuvens carregadas de umidade Amazônia, de frentes frias da Patagônia e de vapor do Atlântico. Mas o domo que atinge parte do Brasil ao norte do RS funciona como um escudo de ar quente. As nuvens encontram o domo e não conseguem avançar para outras áreas. Elas vão se acumulando, empurradas pelos ventos de oeste e ficam estacionadas, chovendo sem parar no estado.
Os ventos naquela região do Oceano Pacífico estão praticamente normais. A situação tem a cara do El Niño, com calor no Centro-Oeste e no Sudeste e chuva incessante no Sul. Mas a umidade que alimenta as chuvas vem da Amazônia, nos rios voadores. E também de frentes frias. Já o Atlântico quente lança mais vapor no ar e isso é alimento de chuva. É uma combinação de fatores e é impossível dizer qual o peso de cada um dos fenômenos climáticos que ocasionaram a chuvarada.
Segundo especialistas, a causa direta está longe da América do Sul, bem no meio do Pacífico. É um bloqueio na atmosfera, causado pela combinação de sistemas de alta e de baixa pressão. E é ele que fará com que as chuvas perdurem por vários dias com força sobre o Rio Grande do Sul. O bloqueio travou a atmosfera, literalmente parou o tempo.
Bloqueios são monstros atmosféricos capazes de influenciar o clima por milhares de quilômetros. Várias configurações podem bloquear a atmosfera e dependendo da localização, os efeitos são muito diferentes. Vão de chuva à seca e de calor a frio. Os bloqueios não estão necessariamente relacionados ao El Niño. E sempre têm longa duração.
O termo técnico bloqueio tem sido usado erradamente para fenômenos diferentes. As pessoas também chamam equivocadamente de bloqueio os sistemas de alta pressão, como o domo quente que está estacionado neste momento sobre o Centro-Oeste e o Sudeste. Mas bloqueios meteorológicos são os sistemas que se desenvolvem na altura das latitudes subtropicais e barram as frentes frias, que precisam então desviar. Esta semana, todas as frentes têm sido desviadas para o Rio Grande do Sul.
A partir de domingo, o bloqueio no Pacífico e a alta pressão sobre o Centro Oeste e o Sudeste enfraquecem um pouco. Os ventos podem perder alguma força. Isso deve aliviar o calor nessas regiões e a chuva no RS. Porem, a chuva não vai parar, mas reduzir de intensidade ao se espalhar por uma área maior. Parte das frentes frias deve se deslocar para o Uruguai e a Argentina e outra, subir, alcançando Santa Catarina.